quarta-feira, 11 de março de 2009
Aos antigos vencedores, os tomates!
Em Quincas Borba, Machado de Assis entregou ao personagem Rubião a seguinte frase: "ao vencedor, as batatas". Era uma forma do autor "aconselhar" que quem vencera uma guerra, deveria desfrutar todo o sabor dela. Um século depois do falecimento de Machado, o ponto de vista da glória no futebol brasileiro foi sensivelmente deturpado: os eternos vencedores que permearam sua carreira com grandes e justas vitórias, hoje recebem tomates da própria torcida e até mesmo dos jogadores que atualmente defendem as cores dos times pelos quais se consagraram.
Ontem foi a vez de mais um ultraje ocorrido com ex-ídolo de um clube. Revoltado com a "arbitragem" no rachão que acontecia entre os jogadores do Flamengo num treino, o goleiro Bruno ofendeu o atual auxiliar Andrade sem palavrões, mas com palavras que ferem a história do futebol brasileiro. O camisa 1 rubro-negro disse que ele "ganhou tudo como jogador, mas como técnico não ganhou nada".
Volante presente nas maiores conquistas do Flamengo (o Mundial Interclubes e a Taça Libertadores da América de 1981, além de quatro Campeonatos Brasileiros, sem contar o Campeonato Brasileiro que ganhou em 1989 pelo Vasco), Andrade viu sua carreira como jogador desvalorizada em detrimento de uma hipotética carreira como técnico - que ele ainda não tem, pois trabalha sempre como auxiliar. O incidente foi relevado pelo ex-jogador, mas o desrespeito a um dos jogadores da história rubro-negra mostra como os atletas entram em campo buscando esquecer o passado de glórias de décadas anteriores para que a torcida "se acostume" ao futebol hesitante jogado atualmente. Bruno é o exemplo de um bom goleiro que poderia se consagrar na Seleção Brasileira se tivesse um mínimo de humildade dentro e fora de campo.
Já no arquirrival do rubro-negro no Rio de Janeiro, o desrespeito com a história do clube vem das arquibancadas. Após conseguir, com muito custo, retirar do Vasco da Gama o câncer da ditadura de Eurico Miranda, o ex-jogador Roberto Dinamite agora é alvo de torcedores que esquecem (ou fingem esquecer) o passado recente do clube. Eles culpam Roberto pelo rombo financeiro existente em São Januário e, em especial, pela queda do Vasco para a Segunda Divisão do futebol brasileiro ao final do ano passado.
Com duas décadas de bom futebol prestadas ao Vasco, clube que defendeu em 1.110 partidas e pelo qual marcou 708 gols na carreira, hoje Roberto é questionado até como ídolo do clube. Alguns torcedores usam até a artimanha de "recordar" que O ex-jogador teria revelado que quando era menino torcia para o Botafogo, na intenção de ridicularizá-lo e enaltecer o "vascaíno" ex-presidente Eurico Miranda. Na tentativa de salvar o time pelo qual consagrou sua carreira, Roberto expôs até sua credibilidade, e agora vê seu comando na caravela cruzmaltina receber tentativas de sabotagem criadas por conselheiros que se insinuam torcedores do Vasco para colocar picuinhas políticas acima da paixão de um clube.
A Andrade e a Roberto Dinamite, que em campo foram sinônimo de glórias para os clubes pelos quais jogaram, hoje vem a inglória luta de conviver com o descaso de um país que tem memória curta - em especial no cenário esportivo, que a toda hora elege um novo vencedor. Aos antigos vencedores, sobram apenas os tomates atirados pela ignorância de "atuais" ídolos e de "falsos" torcedores.
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4 comentários:
Concordo, mas...
Vinicius, vou fzr um rodeio, pra depois explicar o que eu não concordo.
Acho que o Andrade deveria ser respeitado pela idade, pelos titulos, e pelo simples fato de ser um ser humano. Porém, acho que o Andrade e qq idoso, ou qq pessoa deve respeitar toda e qq pessoa, até mendigo deve ser respeitado, até animais e plantas...
Vamos Lá: Vc não citou no seu texto que o recordista Andrade, iniciou a confusão ao perguntar para o grande goleiro do Flamengo (e péssima pessoa Bruno) quem ele era para questionar a arbitragem do Andrade!! Quem fala o que quer, ouve o que não quer!!
Acho tbm, que a imprensa pode ter colocado lenha na fogueira, ou no texto. Pois tudo isso aconteceu, mas poderia ter sido levado de letra...
O Bruno é um cara suspeito pra mim, desde aquele episódio com o Marcinho, em Minas Gerais, mas acho que o Andrade, profissionalmente, não pode tratar um empregado assim, principalmente, quando esse funcionário nao recebe salário.
Sobre o Dinamite, acho uma sacanagem o que estao fazendo com ele. Eurico, foi bem definido por vc, como um cancer. O Pior é que tem torcedor do vasco, que acha este cancer muito bom, por ganhar "beneficios"
"Há braços"
PS: vc conhece o escritor Haroldo Maranhão?
Oi, Marcos,
eu entendo e concordo com o que você disse em relação a "quem fala o que quer, ouve o que não quer". Mas acho que o Bruno é marrento demais, e não poderia ter entrado na pilha do Andrade, sabendo a visibilidade que tem um treino do Flamengo - fatalmente a imprensa ia fazer, e fez o alarde que fez.
Como frequentador assíduo dos corredores de São Januário, eu sei que tem gente no Vasco que chama Eurico de "rei" e de "papai". É muito triste ver esta situação.
Rapaz, só conheço o Rodrigo Maranhão de nome e de ler sobre o trabalho dele. Acho que esqueci de comentar isto contigo quando você me falou da primeira vez. Me conta mais sobre ele?
Abraços,
Vinícius Faustini
É isso aí, amigo Vinicios. Nosso país tem uma triste cultura de esquecer fácil das coisas. Muitos só são valorizados como merecem depois que morrem...
Derbson frota
Tianguá CE
Derbson,
e o detalhe é que estes ex-jogadores da época do Roberto e do Andrade não têm o respaldo financeiro que os que estão em campo nos dias de hoje. Além de ostracismo, eles convivem com a penúria financeira.
Muito obrigado por sua primeira participação. Apareça sempre.
Abraços,
Vinícius Faustini
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