quinta-feira, 29 de outubro de 2009

ANÁLISE DE QUARTA - Capricho do futebol?



Jogo de hoje: Barueri 2 x 0 Flamengo (Arena Barueri, Campeonato Brasileiro)

Nem o apelo a São Judas Tadeu foi suficiente para fazer com que as preces da torcida rubro-negra se transformassem numa graça neste 28 de outubro. Depois de uma sequência de 10 jogos sem perder, o Flamengo saiu de campo da Arena Barueri com uma derrota por 2 a 0 para o Barueri e adiou o sonho de ficar entre os quatro times credenciados para uma vaga na Taça Libertadores da América.

Os primeiros minutos do confronto no interior paulista já demonstraram que o Flamengo não é tão imbatível. Sem Petkovic para armar as jogadas, Andrade escalou seu meio-de-campo com três volantes (Aírton, Willians e Maldonado) e teve de recorrer a Fierro para tentar a criação das jogadas. Um esquema que parece bom para um time que vai jogar como visitante, mas que era desnecessário diante de um adversário que, além de ser inferior tecnicamente, estava em minoria na torcida dentro de seus próprios domínios.

O que os torcedores viram foram muitos minutos de pressão do Barueri, enquanto os rubro-negros assistiam às suas boas chances se diluírem em chutes fracos que mal assustavam o goleiro Renê. A torcida flamenguista achava que ia ver o panorama do jogo mudar aos 14 minutos, quando Aírton aproveitou rebote de cabeçada na trave de Ronaldo Angelim e tocou a bola para o fundo da rede, mas o árbitro Héber Roberto Lopes assinalou impedimento.

O primeiro tempo caminhava para um morno empate sem gols entre o time da casa, que só tocava a bola para os lados, e um visitante que permanecia bastante recuado. Até que, aos 48 minutos, Thiago Humberto recebeu bola na direita e, depois de dar um chapéu em Álvaro, entregou a bola de cabeça para Val Baiano marcar. Thiago estava em posição irregular no início da jogada.

Na tentativa de melhorar a criação das jogadas, Andrade substituiu o meia Fierro (mais uma vez, uma nulidade em campo) e colocou o atacante Dênis Marques. A ideia era deixar mais um homem dentro da área do Barueri. Mas, assim como o meia chileno, o reserva novamente demonstrou que não faz diferença em campo. O panorama da partida era praticamente o mesmo no primeiro tempo - mas, pelo menos, o Flamengo demonstrava mais ímpeto em buscar as jogadas.

Na metade da segunda etapa, Andrade tentou mais uma cartada: o volante Maldonado deu lugar ao atacante Erick Flores. Entretanto, poucos minutos depois o Barueri chegou ao seu segundo gol, após um descuido da zaga rubro-negra que permitiu que Thiago Humberto tocasse para Ewerthon marcar, à esquerda de Bruno.

Curiosamente, a partir do segundo gol, as chances apareceram do lado do time paulista, e fizeram com que o goleiro rubro-negro novamente evitasse um placar com diferença ainda maior. Nos minutos finais, o Flamengo teve de ouvir gritos de "olé" e vaias (principalmente ao lateral Juan, que reclamou com Andrade ao ser substituído por Toró).

Com a derrota, o Flamengo não só deixou escapar a chance de subir para o G-4 como também caiu para o sexto lugar (foi ultrapassado pelo Cruzeiro, que venceu o Santo André por 3 a 2 no Mineirão). Provavelmente, São Judas Tadeu não consiga ser maior do que a ausência de um jogador de categoria como Petkovic para armar jogadas do time rubro-negro. Ou será um capricho dos deuses do futebol, depois de tanto "oba-oba" que cercou a equipe flamenguista nas últimas rodadas? Só a reta final do Campeonato Brasileiro dirá.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

É ele!



As emoções dos mais de 3 mil jogos e dos cerca de 6 mil gols narrados na vasta carreira de JOSÉ CARLOS ARAÚJO agora receberam registro literário. Foi lançado ontem o livro Paixão pelo rádio, biografia do "Garotinho" das ondas do rádio escrita pelo jornalista Rodrigo Taves.

São 207 páginas de uma história que, segundo o texto da contracapa, traz "o testemunho de alguém visceralmente apaixonado pelo que faz". E que, por consequência, também contribui para que as várias torcidas sintam de maneira visceral a emoção de um gol marcado pelo seu clube.

O livro inicia contando dois momentos extremos e emocionantes para o futebol brasileiros: os "milésimos". O milésimo gol de Pelé, em 1969, no Maracanã (pelo Santos, contra o goleiro vascaíno Andrada), e o milésimo gol de Romário, em 2007, no estádio de São Januário (pelo Vasco, diante do Sport). Uma forma interessantíssima de traçar o paralelo de uma carreira extensa ligada ao futebol.

Desde 1964, são inúmeras competições estaduais, nacionais, internacionais e, dentre elas, nove Copas do Mundo (de 1974 a 2006). E, certamente, muitas histórias para contar de sua paixão pelo rádio. Paixão que José Carlos Araújo continua a propagar, graças aos seus ouvintes.

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PAIXÃO PELO RÁDIO - Do milésimo de Pelé ao milésimo de Romário, a trajetória de José Carlos Araújo, o eterno Garotinho, de Roberto Taves

Maquinária Editora
207 páginas
R$ 38,00


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Na foto, José Carlos Araújo com este escritor de O tempo e o placar... que vos escreve.

domingo, 25 de outubro de 2009

Reescrever a história



A intensa sequência de empates, que fizeram a imprensa esportiva brasileira considerar Flamengo e Botafogo a rivalidade mais forte do futebol carioca na década de 2000, teve uma interrupção no jogo de domingo, realizado no Engenhão. Melhor para o rubro-negro da Gávea, que saiu de campo com uma vitória por 1 a 0 (gol de Adriano) e segue lutando por uma vaga entre os quatro melhores do Brasil - e, por que não, pelo título do Campeonato Brasileiro.

O clássico aconteceu da maneira como era previsível. O Botafogo de Estevam Soares entrou em campo com um esquema um pouco mais ofensivo (o meia Lúcio Flávio e o trio de ataque Reinaldo, Jobson e André Lima), enquanto o técnico Andrade recorreu a uma postura defensiva, com o ataque se resumindo aos passes precisos de Petkovic para encontrar Adriano e Zé Roberto.

Entretanto, apesar do bom volume de jogo alvinegro em boa parte do primeiro tempo, o time se ressentia de organização. Com Lúcio Flávio bem marcado e Reinaldo não conseguindo iniciar as jogadas para servir seus companheiros de ataque, o jogo parava na zaga rubro-negra - que mostrou mais uma vez estar bem estruturada; O time chegou ao seu décimo jogo sem perder (dentre eles, só levou gol em duas partidas), e não sentiu os desfalques do zagueiro Ronaldo Angelim e do volante Willians.

Se o meio-de-campo botafoguense não se livrava da marcação adversária, o meio flamenguista perdia para seus próprios erros, comprovando uma situação preocupante para um time que almeja ser campeão: em dia pouco inspirado de Petkovic, o Flamengo perde, e muito, seu poder ofensivo. Foi preciso Adriano arriscar uma jogada individual para abrir o placar no Engenhão, em um lance bonito no qual tirou os zagueiros Wellington e Juninho para dançar e chutou no fundo da rede alvinegra.

Em desvantagem no placar e, principalmente, na situação do Campeonato Brasileiro, o Botafogo voltou para o segundo tempo com mais força ainda. Entretanto, as limitações alvinegras sempre falavam mais alto, em especial pelas más atuações de Jóbson, André Lima e do atacante Victor Simões (que, depois de entrar no lugar de Batista, só foi notado em campo por uma péssima cobrança de escanteio).

O Flamengo se acuava ao redor do gol de Bruno, e abdicou de jogadas no ataque depois da saída de Petkovic para colocar o estreante Gil - mais um atacante para que, se o time não atuava em frente? De tantas tentativas perto da área rubro-negra, aos 25 minutos veio a maior oportunidade botafoguense no jogo. André Lima caiu na área e o árbitro marcou pênalti de Aírton (pessimamente marcado pelo árbitro Luís Antônio Silva Santos, pois o zagueiro estava de costas para o atacante botafoguense na hora do lance). Na cobrança, Lúcio Flávio bateu para defesa de Bruno.

A sina botafoguense continua, e a cada rodada a equipe de General Severiano corre o risco de repetir a história do técnico Estevam Soares (agora, o time está no antepenúltimo lugar, com 32 pontos). No ano passado, o treinador comandava a Portuguesa, que foi rebaixada para a Série B do Campeonato Brasileiro. A Lusa se caracterizava por uma situação curiosa: sempre fazia ótimas partidas, mas depois de 90 minutos saía de campo derrotada. Com a vitória, o Flamengo prossegue em quinto lugar, a um ponto do São Paulo, último time do grupo atual de credenciados para a vaga na Taça Libertadores da América. E a quinta colocação é a mesma na qual o clube acabou a competição em 2008 - lutou tanto para ficar sem uma vaga.

Os dois clubes saem de campo e continuam os cálculos para saber quais destinos terão no Campeonato Brasileiro - o Flamengo tentando o G-4 e o Botafogo tentando sair do Z-4. Situações diferentes, mas com uma coisa em comum: os dois rivais cariocas anseiam por tentar reescrever suas histórias. Desta vez, com finais felizes para o futebol do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Análise de quarta - Tá ruim, mas tá bom



Jogo de hoje: Cerro Porteño (PAR) 2 x 1 Botafogo (Estádio General Pablo Rojas, em Assunção, Copa Sul-Americana)

Como não bastasse o desprezo das equipes brasileiras na fase de confrontos nacionais da Copa Sul-Americana, e parece que alguns clubes continuam jogando para cumprir tabela em um campeonato que deveria ter somente decisões. Foi assim com o Botafogo, que na partida de ida das quartas-de-final da competição, foi ao Estádio General Pablo Rojas, em Assunção, e saiu de lá com uma derrota por 2 a 1 para o Cerro Porteño.

Se os titulares botafoguenses já formam uma equipe limitada, a mescla com os reservas tornou o Botafogo ainda mais fraco para enfrentar o também fraquíssimo Cerro Porteño. Mas os paraguaios exerciam bem o papel de mandantes da partida, e alçavam muitas bolas na área alvinegra. Numa delas, um bate e rebate iniciado por Nanni (que estava impedido) e teve participação de Irrazabal achou Recalde livre para marcar, aos 33 minutos. Único bom momento em 45 minutos de futebol rasteiro.

A segunda etapa trouxe um jogo mais movimentado. Os alvinegros tiveram lampejos de bom futebol e Reinaldo, aos 12, empatou a partida (em mais um gol polêmico, pois a bola teria resvalado propositalmente no braço do camisa 7). O empate em 1 a 1 parecia o início de uma jornada heroica do mistão botafoguense, mas a expulsão de Léo Silva comprometeu a atuação do time na noite paraguaia.

Acuado e sem chance de conseguir reação, o Botafogo se preocupava em não perder, e o Cerro Porteño continuava criando jogadas perigosas. E a nove minutos do fim, mais uma vez um lance com Nanni se tornou polêmica desfavorável para o time carioca. O jogador foi puxado na área, e o árbitro, além de marcar pênalti, expulsou o zagueiro Emerson (que não tinha cartão amarelo). Nanni converteu a cobrança. Nos últimos minutos, o Cerro teve chances de ampliar a vantagem, mas novamente o goleiro Jefferson foi o melhor com a camisa alvinegra.

Um resultado que certamente não foi considerado totalmente negativo aos olhos de jogadores, treinador, dirigentes e até da torcida do Botafogo. Afinal, uma vitória simples dá a vaga ao time alvinegro, e desta vez a tendência é escalar mais jogadores titulares. Enquanto isto, a Copa Sul-Americana perde em qualidade e credibilidade, pois o estigma de tirar o pé do acelerador continua mesmo depois da fase inicial.

A derrota do Botafogo por 2 a 1 para o Cerro Porteño pareceu mais um "risco calculado" de Estevam Soares: alguns titulares foram poupados para o próximo confronto da equipe no Campeonato Brasileiro, o clássico diante do Flamengo no Engenhão. Com a surpreendente vitória por 2 a 0 do Santo André sobre o líder Palmeiras, momentaneamente os botafoguenses estão na zona de rebaixamento. A torcida do Botafogo espera que a derrota de hoje seja compensada com a vitória de domingo. Caso contrário, todos os cálculos da Sul-Americana terão sido desnecessários para seguir na corrida do Brasileirão. Copa Sul-Americana? Tá ruim, mas tá bom!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O gringo e mais dez




Não, não foi Adriano. O grande reforço do Flamengo e responsável pela arrancada da equipe no Campeonato Brasileiro de 2009 é também um velho conhecido da Gávea, mas que veio com muito menos badalação do que o Imperador. E a cada partida, o sérvio Petkovic se revela o jogador fundamental do time rubro-negro, por ser o grande armador de jogadas e também responsável por grandes jogadas de talento. O domingo de São Paulo comprovou sua importância: em pleno Parque Antarctica, diante do líder Palmeiras, Petkovic marcou os dois gols da vitória de 2 a 0 do Flamengo sobre o alviverde paulista (que jogou de uniforme azul).

Petkovic retornou ao Flamengo como forma de amenizar um litígio. O jogador abria mão de parte de uma dívida financeira se pudesse voltar a vestir a camisa do clube. Sua contratação foi repudiada pelo então técnico Cuca, que raramente o colocava no banco de reservas e, quando ele entrava nas partidas, era nos últimos 10 ou 15 minutos (em geral, quando o jogo estava definido). Com a troca de técnicos e a efetivação de Andrade, Pet voltou a ter oportunidades de jogar e, aos poucos, fez sua habilidade falar mais alto com os pés.

E num jogo tão equilibrado como foi o duelo com o Palmeiras, o peso de seu talento favoreceu o Flamengo. Vindo de dois resultados negativos (um empate com o Avaí em São Paulo e uma derrota para o Náutico em Recife), o alviverde pressionou desde os primeiros minutos - a pressão era ainda maior porque, durante a semana, o técnico Muricy Ramalho afirmara que "uma vitória sobre o Flamengo era obrigação". No entanto, a zaga rubro-negra era amparada pelo trio de volantes (Maldonado, Toró e Willians) e conseguia evitar que a bola chegasse aos atacantes Robert e Vágner Love.

Mas um contra-ataque flamenguista mostrou a diferença de ter o sérvio Petkovic no time. Após uma boa tabela com o lateral Juan, o camisa 43 tirou dois palmeirenses para dançar e abriu o placar no Palestra Itália aos 23 minutos. A desvantagem no placar fez o Palmeiras intensificar seu ataque, e ter uma sucessão de oportunidades desperdiçadas - duas delas com Vágner Love.

Na segunda etapa, em vez do recuo mais "previsível", o Flamengo surpreendeu com duas chances seguidas, uma com Léo Moura e outra com Petkovic. A zaga rubro-negra parecia intimidar os jogadores de azul, e o time carioca administrava o resultado. Só que a tarde ficou ainda mais favorável para o vermelho e preto aos 16 minutos. Petkovic cobrou escanteio pelo lado esquerdo, a bola passou por Ronaldo Angelim e no meio das pernas de Danilo, e enganou o goleiro Marcos. Um "gol olímpico" feito sem querer, mas onde mais uma vez brilhou a estrela de 37 anos que veio da Sérvia.

Mesmo com a vantagem mais larga do Flamengo, o time palmeirense continuou insistindo em jogadas de área - esbarrando na boa marcação flamenguista. Aos 40 minutos, veio a grande chance do Palmeiras no jogo. Em cruzamento de Wendel, Ortigoza foi empurrado por Ronaldo Angelim. Pênalti. O momento que poderia ameaçar a vitória rubro-negra foi isolado, na cobrança de pênalti que Vágner Love chutou por cima do travessão de Bruno.

O Flamengo agora está em quinto lugar - a um ponto do São Paulo, que hoje estaria na Taça Libertadores da América - e sai do Palestra Itália com uma certeza. De que Adriano não é a figura mais importante do time flamenguista. O time da Gávea, hoje, é Petkovic e mais dez.

domingo, 18 de outubro de 2009

Em boa hora



Em meio a tantas lambanças à frente da Confederação Brasileira de Futebol, o presidente Ricardo Teixeira teve duas excelentes declarações nesta semana envolvendo o Campeonato Brasileiro. E, mesmo sabendo que iria bater de frente com a Rede Globo, a maior investidora da competição nacional, ele pegou justamente os pontos mais delicados da relação da emissora com o Brasileirão.

O mais delicado para o torcedor é o horário. Com a programação da TV Globo cada vez mais tarde, os jogos que terão exibição da televisão invariavelmente acabam depois da meia-noite, deixando difícil o retorno da torcida após o final da partida, em especial por ser numa quarta-feira. A ideia de que os jogos sejam transmitidos às 19h é valiosíssima, e seria a mais justa possível para os espectadores de televisão e de estádio.

Entretanto, com a nata da programação da TV Globo justamente entre as 19h e as 22h (duas novelas e um noticiário), o remanejamento seria ainda mais delicado, e a CBF teria uma derrota na queda de braço com a emissora. Um exemplo disto foi o que ocorreu em 30 de dezembro de 2000, na final entre Vasco e São Caetano, pela Copa João Havelange.

Como Vasco e Palmeiras estavam disputando o Brasileiro e a Copa Mercosul, os horários foram remanejados para que o ano do futebol nacional acabasse dia 23. Mas, coincidiu de numa das datas do futebol ir ao ar (segundo a programação de fim de ano) o Roberto Carlos Especial. Com isto, a tabela teve de ser adiada em uma semana.

Vasco e São Caetano decidiram a partida no dia 30 de dezembro, a partir das 16h, em São Januário. Aos 23 minutos do primeiro tempo, um alambrado cedeu e causou ferimentos em centenas de torcedores presentes no estádio superlotado. Em meio aos atendimentos e aos problemas que aconteciam, o narrador Galvão Bueno dizia, com apoio dos comentaristas Falcão e José Roberto Wright, que tudo tinha de se resolver o mais breve possível, porque "iria causar mais tumulto" se o jogo não fosse realizado.

Galvão defendia veementemente a volta da partida, mas mudou o discurso depois de algumas horas. O motivo: se aproximava das 18h, e a TV Globo tinha prevista em sua programação um capítulo da "novela das seis". A manipulação (que no Jornal Nacional suprimiu um apoio ao então presidente Eurico Miranda quando ele disse que queria atender as vítimas) evidenciou o descaso da emissora com a torcida brasileira, camuflado pelo "apoio ao futebol".

O apoio só ocorre porque a TV Globo quer a grande fatia de audiência. E neste Campeonato Brasileiro de 2009, a conduta "global" ficou ainda mais explícita, quando, em algumas rodadas, jogos foram pinçados para a quarta-feira da semana seguinte ao futebol, só para serem transmitidos em estados que não tinham times envolvidos em competições diferentes. Em plena decisão de Taça Libertadores da América envolvendo Cruzeiro e Estudiantes, da Argentina, o Rio de Janeiro assistiu a Corínthians e Fluminense.

O outro aspecto é camuflado pela "emoção". A TV Globo quer a volta do sistema de "mata-mata" em vez da disputa por pontos corridos que acontece desde 2003. O argumento principal é que alguns estados (em especial o Rio de Janeiro) não estão mais disputando títulos. O investimento pelo retorno ao sistema anterior é tão grande que a emissora do Jardim Botânico aceita pagar uma boa quantia financeira aos clubes que forem eliminados na primeira fase.

A ansiedade pela audiência em vários estados acaba fazendo com que a TV Globo não enxergue a óbvia vantagem que veio no novo formato do Campeonato Brasileiro. Em vez de ficar somente na briga pela ponta, o confronto fica emocionante para todos os 20 clubes. Alguns brigam pelo título, outros brigam pela vaga entre os quatro primeiros, alguns tentam vaga na Copa Sul-Americana e outros tentam escapar do descenso. Muito mais justo do que um oitavo lugar se sagrar campeão, numa democracia falsa.

Ricardo Teixeira pode ter vários deslizes à frente da CBF. Mas suas declarações vieram em boa hora, pelo bem do Campeonato Brasileiro e, principalmente, pelo bem da torcida brasileira.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Terminou no zero



A Seleção Brasileira encerrou sua participação nas Eliminatórias da Copa do Mundo da mesma forma que começou: com um empate em 0 a 0 e muita desconfiança para a torcida e a imprensa esportiva. Mas a insegurança não vem de esquemas táticos ou jogadores convocados. A situação mais grave vem da instabilidade das atuações do atletas brasileiros.

O empate sem gols contra a Venezuela, uma seleção que jogou durante os 90 minutos com a única intenção de não sofrer gols, deu uma frustração numa disputa de Eliminatórias tão hesitante. Entre as duas "Seleções Brasileiras" da competição - a apelidada de "seleção vagalume", por não conseguir fazer duas boas partidas consecutivas, e a empolgante equipe que surpreendeu na reta final ao trazer vitórias expressivas em território adversário (4 a 0 sobre o Uruguai em Montevidéu e 3 a 1 sobre a Argentina em Rosário) - prevaleceu a falta de brilho da primeira opção no jogo de encerramento. Pela quarta vez neste torneio, a torcida saiu de campo sem ver a rede balançar em um jogo realizado no Brasil.

O time veio com algumas mudanças em relação à derrota para a Bolívia. Além dos retornos de Gilberto Silva, Kaká e Luís Fabiano, entraram em campo o lateral-esquerda Filipe Luís e o volante Lucas (ambos tendo a primeira chance como titular com a camisa brasileira). Mas, mesmo diante de uma torcida sul-mato-grossense que foi apoiar o time, o Brasil jamais conseguiu se desvencilhar de um forte adversário - a apatia.

Tanto que somente aos 28 minutos veio a primeira tentativa clara da Seleção Brasileira - um chute de Luís Fabiano. O camisa 9 teve outras oportunidades, mas todas mal incomodaram o goleiro Vega. Apesar dos venezuelanos pouco chegarem à área brasileira, o goleiro Júlio César teve mais perigos para evitar, como na cobrança de escanteio de Maldonado que por pouco não foi direto para o gol, e também na cabeçada de Arango, no lance final do primeiro tempo.

A Seleção Brasileira ensaiou uma melhora nos primeiros minutos da etapa final. Dentre os lances de maior perigo, veio o de Gilberto Silva, que cabeceou na trave uma bola lançada em cobrança de escanteio de Filipe Luís, aos sete minutos. Três minutos depois, o zagueiro Miranda foi expulso por uma cotovelada em Maldonado. Mesmo com um a menos, o Brasil teve boas oportunidades, em lances de Ramires e Luís Fabiano.

E no encerramento brasileiro das Eliminatórias da Copa do Mundo, Dunga mais uma vez teve de recorrer a improvisos. Filipe Luís foi mais uma opção mal-sucedida na lateral-esquerda, e acabou substituído pelo meia Alex. Com a mexida, o treinador recuou Gilberto Silva, deixando o volante como terceiro zagueiro. O meia Elano e o atacante Diego Tardelli movimentaram um pouco mais a partida, só que sempre esbarravam na retranca venezuelana.

O último bom momento da Seleção Brasileira veio já nos descontos do árbitro peruano Victor Carrillo. Kaká desceu na esquerda, passou por um zagueiro e chutou uma bola na trave de Vega, já batido no lance. O chute do camisa 10 acabou sendo o símbolo do que foi o Brasil nestas Eliminatórias. Até que houve alguns lampejos de bom futebol, mas a maioria deles bateu na trave, desviados por um aparente desinteresse dos jogadores e até uma certeza de que o favoritismo do time verde e amarelo é inabalável. É bom Dunga começar do zero o planejamento para a Copa do Mundo de 2010. Ainda mais que a caminhada até ela terminou justamente no zero.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Embolada nacional



O Campeonato Brasileiro traz um ritmo bem interessante nesta sua reta final. A sequência de jogos na rodada espremida pela partida entre Bolívia e Brasil tornou a competição ainda mais embolada.



O quarteto da zona de classificação para a Taça Libertadores da América não saiu de campo vitorioso. No sábado, o vice-líder São Paulo caiu diante do Flamengo (que segue numa ótima arrancada e pode terminar o torneio comprovando o epíteto de "time de chegada") numa derrota por 2 a 1, de virada, no Maracanã e o terceiro colocado, Internacional, tropeçou no Atlético Paranaense com o empate em 1 a 1 no Beira-Rio.



Nos jogos de segunda-feira, o Atlético Mineiro perdeu a queda de braço com seu arquirrival Cruzeiro, e saiu do Mineirão com uma derrota por 1 a 0. Para completar a sequência de fiascos da parte de cima, o Palmeiras foi aos Aflitos e deixou sua torcida em aflição ao levar uma surra do Náutico, pelo placar de 3 a 0. Outro time da parte de baixo da tabela surpreendeu uma das equipes que estão brigando pelas primeiras posições: o penúltimo Sport foi até o Serra Dourada e evitou que o Goiás voltasse ao G-4, graças ao empate em 1 a 1.

Resultado positivo para o meio da tabela, que traz hoje uma situação interessantíssima. Entre o sétimo colocado (Cruzeiro, mais um a surpreender depois de passar por maus bocados no torneio) e o décimo-terceiro (Santos) a diferença é de somente dois pontos.

A vitória do Corínthians sobre o Grêmio, por 2 a 1, elevou a equipe ao oitavo lugar, passando os gaúchos para a nona posição. O também 2 a 1 do Barueri sobre o Coritiba no Couto Pereira deixou a equipe no décimo-segundo lugar. Um tropeço de um e um triunfo de outro pode virar a classificação de cabeça para baixo.



De cabeça para baixo prosseguem três estados brasileiros. Mesmo tendo dois times na briga pelo título (Palmeiras e São Paulo), os paulistas veem hoje o Santo André na zona de rebaixamento, depois da derrota por 2 a 1 para o Fluminense no Bruno José Daniel, com direito a retorno do badalado Fred fazendo gol. Nem mesmo esta boa vitória contra um adversário direto na competição tirou do tricolor das Laranjeiras a última posição do campeonato, pois os adversários de Pernambuco (Náutico e Sport) também conquistaram alguns pontinhos. Menos pior ficou a situação do outro carioca - o Botafogo - que, apesar de mais uma vez sair com um empate no Engenhão, um 2 a 2 diante do Avaí, está a uma vitória dos prováveis rebaixados no ano de 2009.

O Campeonato Brasileiro continua imprevisível. E a torcida brasileira aguarda, ansiosa, para saber quem conseguirá as melhores fatias neste bolo da competição.

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O tempo e o placar... traz o que houve de melhor e de pior na vigésima-nona rodada do Campeonato Brasileiro.

O CHUTAÇO

O FLAMENGO conseguiu mais uma vitória muito convincente - 2 a 1 sobre o poderoso São Paulo - e de novo pode surpreender na reta final. A arrancada se deve ao acerto no meio-de-campo, depois da contratação de Maldonado, que resolveu o terror que era o rodízio entre os volantes da equipe, e também da boa fase de Petkovic.

A FURADA

Sim, a torcida do alvinegro carioca tem fama de não comparecer em peso no estádio. Mas a DIRETORIA DO BOTAFOGO subestimar seus próprios torcedores não foi nem um pouco feliz, ainda mais num estádio com boa capacidade como o Engenhão, e em pleno feriado de Nossa Senhora Aparecida. Assim fica mais difícil a credibilidade dos diretores e também da organização para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sem atitude na altitude



Ao final dos 90 minutos da partida do Brasil em campo boliviano, o discurso cauteloso que antecedeu este duelo pelas Eliminatórias da Copa do Mundo será necessário. A dificuldade de jogar numa altitude de 3.760 metros, a ausência de jogadores importantes - como Gilberto Silva, Kaká e Luís Fabiano - e o fato de a Seleção Brasileira já estar classificada com algumas rodadas de antecedência, serão desculpas recorrentes ao menos até quarta-feira, quando o Brasil vai a Campo Grande (capital do estado do Mato Grosso do Sul) enfrentar a Venezuela, em seu último jogo. A derrota por 2 a 1 para a Bolívia, quebrando uma série invicta de 14 jogos, mostrou alguns problemas que o time de Dunga precisa solucionar até 2010.

Sim, pode ter sido por causa da altitude, mas o meia Diego Souza não se revelou o substituto ideal para a Kaká - e muito menos um bom camisa 10 para a Seleção Brasileira. Completamente perdido em campo, o jogador se juntou à mediocridade do meio-de-campo brasileiro e, assim como Josué, Ramires e Daniel Alves, foi facilmente neutralizado pelos jogadores da Bolívia.

Penúltima colocada e já eliminada na tentativa de ir para a Copa do Mundo do ano que vem, a seleção boliviana construiu a vitória ainda no primeiro tempo, e da maneira típica de seleções limitadas - em dois gols de bola parada. O primeiro gol veio aos nove minutos, em cobrança de escanteio na qual a zaga brasileira não subiu e Júlio César saiu mal, permitindo que Olivares desviasse a bola para o fundo da rede. O segundo gol veio aos 35, em uma cobrança de falta na qual Marcelo Moreno deixou saudades à torcida do Cruzeiro - um chute perfeito, no qual só restou ao camisa 1 brasileiro olhar a bola entrar.

Os dois gols de desvantagem fizeram justiça ao que o Brasil apresentou no primeiro tempo. Um time disperso, que recorria aos chutões para encontrar na frente os atacantes Nilmar e Adriano. Mas, com o ar rarefeito, nem os trunfos da velocidade do atacante do Villareal e dos chutes poderosos do Imperador eram suficientes para querer alguma reação.

A Seleção Brasileira voltou para a segunda etapa com duas alterações. No meio, uma mudança previsível - a saída de Diego Souza, um dos que mais sentiram os efeitos da altitude, para a estreia de Alex (ex-jogador do Internacional). No ataque, uma mudança por contusão. Adriano torceu o tornozelo a poucos minutos do fim do primeiro tempo, e teve de dar lugar a Diego Tardelli.

Num primeiro momento, o Brasil mostrou melhora para, pelo menos, tentar equilibrar a partida. Em vantagem no placar, a Bolívia cadenciava a bola e às vezes assustava em cobranças de escanteio. Mas quem teve um grande susto depois de cobrança de escanteio foi a equipe boliviana. Em sua única jogada boa na partida, Maicon iniciou contra-ataque ainda na área brasileira. O lateral deu um pique até a direita da Bolívia e cruzou na medida para Nilmar diminuir o placar.

A Seleção Brasileira criou mais chances, em especial depois que Elano entrou no lugar do (mais uma vez) inoperante André Santos. Com a mudança, Daniel Alves passou a jogar improvisado na lateral-esquerda. Mais um grave problema da equipe de Dunga que parece não ter fim - em especial porque o reserva da posição, Filipe Luís, nem chega a ser relacionado nas partidas. Só que o esquema do treinador Erwin Sanchez fez com que a Bolívia conseguisse evitar até o fim que o Brasil saísse de campo pelo menos com um empate.

Apesar de eliminada de maneira vexatória nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010 - a ponto de sua própria torcida não comparecer na tarde do Estádio Hernando Salles - o técnico boliviano traz pelo menos duas boas lembranças ao time que terminará a competição em penúltimo lugar. Em sua campanha da competição, a Bolívia traz uma goleada sobre a Argentina, por 6 a 1, e esta vitória por 2 a 1 sobre a Seleção Brasileira.

Até a África do Sul, em 2010, Dunga terá um grande desafio: fazer com que a Seleção Brasileira não dependa exclusivamente do bom futebol de Kaká. Afinal, por mais que o meia se revele atualmente o melhor jogador do país, a equipe precisa ter mais saídas para chegar ao gol das seleções adversárias. O primeiro passo pode ser dado logo agora, depois da derrota para a Bolívia: assumir que, mesmo com tantos percalços em campo, à Seleção Brasileira faltou atitude, na altitude de La Paz.

domingo, 11 de outubro de 2009

Que seja protesto



O Brasil entra em campo às 17h (horário de Brasília) em La Paz para jogar, diante da Bolívia, seu penúltimo confronto pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Apesar de ser um jogo oficial, a Seleção Brasileira não estará com sua força máxima - Gilberto Silva, Kaká e Luís Fabiano só estarão em campo na última partida do torneio (quarta, contra a Venezuela, em Campo Grande) - em uma atitude discutível do técnico Dunga.

Louvado pela imprensa brasileira por seus bons resultados, que são creditados pela tendência a manter a base de jogadores convocados, o técnico decidiu abrir mão de alguns de seus jogadores mais importantes para a partida diante dos bolivianos. Caso a opção de poupar os atletas para dar chance de "testar" alguns convocados, como o volante Josué e o meia Diego Souza, Dunga está indo contra seus próprios princípios em um momento no qual precisa ter seu time completo.

Trata-se de um jogo eliminatório, e em jogos oficiais a torcida brasileira costuma ser bem mais exigente. Uma eventual derrota também pode trazer a desculpa de que "não foi tão ruim, pois o Brasil estava com reservas" para amenizar falhas que possam acontecer. Para evitar este problema, convocáveis como o atacante Adriano (que depois de um período difícil parece estar voltando aos seus bons tempos com a camisa do Flamengo) têm de mostrar muito serviço.

Outra especulação sobre as mudanças da Seleção Brasileira foi que a não-escalação dos titulares seria uma forma de protesto. Afinal, o Brasil vai jogar na altitude de La Paz, e as mudanças climáticas podem afetar sensivelmente o rendimento dos jogadores. Para que expor os atletas a sequelas respiratórias e correr o risco de a seleção principal do Brasil sair de campo com uma goleada (caso da Argentina, que perdeu por 6 a 1 para a Bolívia no último confronto)?

Que a opção de Dunga tenha sido pelo protesto - tanto pela tentativa de conscientizar os dirigentes esportivos a evitar jogos na altitude quanto para mostrar que, independente de o Brasil estar classificado para a Copa do Mundo de 2010, as Eliminatórias são coisa séria. Os "testes" têm de ficar restritos a amistosos.

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O tempo e o placar... volta com atualizações diárias, depois do período no qual este que vos escreve ficou envolvido com o lançamento do livro Diário de um salafrário.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Utilidade pública

As atualizações voltam no domingo, dia 11 de outubro de 2009.

Obrigado pela compreensão,

Vinícius Faustini